sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A prática da reportagem - Ricardo Kotscho

      Ricardo Kotscho determina o ofício de repórter como uma opção de vida; a tarefa do profissional é a arte de informar para transformar. Jornalista profissional em São Paulo, Kotscho, em seu livro "A prática da reportagem", procura responder num certa ordem às perguntas mais habituais feitas a ele por estudantes e profissionais da área, utilizando-se de exemplos concretos de matérias em lugar de teorias. "Se pedissem esse trabalho a outro repórter, ele certamente faria diferente - e reside aí o fascínio desta profissão, a sua multiplicidade de estilos e ideias, a verdade nunca pronta, acabada.", conclui o autor.
      O livro é dividido em oito capítulos, sendo eles "Uma opção de vida", "O dia-a-dia", "Coberturas", "Reportagem investigativa", "Perfil", "Levantamento", "Drama Social" e "Grande reportagem".
      O dia-a-dia de uma redação se baseia na produção de notícias a serem veiculadas. Quando há um grande assunto a ser noticiado (e esses são raros), o jornal escolhe seus melhores repórteres, mobiliza correspondentes, aciona o departamento de pesquisa e monta um esquema de edição. O problema é que todos os jornais agirão da mesma forma. O que diferencia um jornal do outro, e consequentemente um repórter do outro, é transformar os fatos do dia-a-dia de uma cidade, de um país ou do mundo em matérias interessantes. A circulação do jornal é diária, logo, seu conteúdo deve informar o leitor a respeito dos fatos do dia-a-dia. O repórter precisa ter iniciativa e saber que seu lugar é na rua. O repórter não pode ter medo de tomar posição e precisa colocar-se no lugar do leitor, fazê-lo viajar como se estivesse no local do acontecimento. Kotscho dá uma dica aqueles que pretendem seguir a profissão de repórter ou já o fazem: "Não despreze nunca uma pauta, antes de saber o que ela pode render, mesmo que o assunto não seja muito agradável. Uma pauta de lixo, por exemplo, pode render uma boa história. Porque qualquer assunto serve, se pudermos, por meio dele, mostrar algo novo que estão acontecendo, ainda que o tema seja já batido". 
      Segundo o autor, a cobertura de um grande acontecimento pode significar para um repórter que está começando a consagração ou fracasso. O esquema especial de cobertura montado para a cobertura de um assunto que foge do dia-a-dia requer um investimento alto da empresa jornalística, o que significa que, um profissional que der mancada uma vez dificilmente terá uma segunda oportunidade. O profissional só deve parar de garimpar informação quando estiver absolutamente seguro sobre todos os fatos que colocará no papel. De acordo com Kotscho, a cobertura de um grande acontecimento requer do repórter, além de capacidade profissional e saber escrever, resistência física, esquecer a hora de dormir e comer e vencer o medo, o cansaço e a saudade.
      Kotscho determina a reportagem investiga como o ramo mais difícil da reportagem e o mais fascinante. Requer do repórter descobrir o que será contado, revelar algo que se deseja esconder da opinião pública.
      Perfil é o "filão mais rico das matérias humanas". Com ele, o repórter tem a chance de produzir um texto mais trabalhado. É necessário que o repórter se livre dos preconceitos e ideias pré-fixadas. Ricardo afirma que deve se deixar bem claro, logo de cara, o objetivo da matéria, sua intenção.
      A reportagem das redações são divididas em áreas: Cidade, Polícia, Política, Economia, Educação e Saúde, Ciência e Tecnologia, Esportes, Artes e Espetáculos. Essa divisão é comparada por Kotscho com a Medicina, e como nesta, apesar de suas divisões, há um clínico geral também no jornalismo: o repórter de "geral". Quando um caso não esperado estoura ou todos os repórteres especializados das diferentes áreas, o repórter de "geral" é acionado pela chefia da reportagem. O autor denomina de "drama social" as matérias não enquadradas nas oito áreas citadas acima.
      Por fim, Kotscho trata em seu livro sobre a grande reportagem. É atribuído a elas esse nome pois requerem um grande investimento humano do repórter e financeiro da empresa. Devido ao alto custo, à falta de disponibilidade dos repórteres e do grande espaço redacional que ocupa, a grande reportagem está cada vez mais rara nos grandes jornais.
    "Esse livro não se trata, pois, da neutralidade do repórter - lugares comuns inventados para domesticar os profissionais. O grande compromisso do repórter é para com seu tempo e sua gente."

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